terça-feira, 20 de março de 2018

Temer, o Judas (?).

No último domingo, enquanto passava por uma avenida localizada no subúrbio de Fortaleza, me deparei com algo bastante interessante. Bonecos de pano tinham sido postos em cadeiras, vestidos como diversas figuras públicas ou anônimas. Enquanto o carro transitava pela via, pude ver cerca de oito bonecos e no final da calçada onde eles estavam expostos, uma propaganda escrita em um papelão rasgado, com tinta azul e letras trêmulas: Zé dos Judas. O telefone para contato estava logo abaixo. Este são produtos em alta para quem quer se preparar para o próximo feriado.

Para quem não conhece e não entende o que estou falando, explico brevemente. O feriado da Semana Santa simboliza a Paixão, Morte e Ressureição de Cristo. O período que representa a chegada de Jesus a Jerusalém, seguida de sua morte, que ocorre graças à traição de Judas, um de seus doze apóstolos. Em troca da cabeça de seu líder, o homem receber 30 moedas dos sacerdotes e capitães que o subornaram. A parábola cristã apresenta como desfecho a ressureição do filho de Deus.
Voltemos aos bonecos. Chama bastante atenção o processo civilizatório e as formas de simbolização que nossa sociedade adquiriu com o passar do tempo. Uma vez ao ano um boneco é queimado para simbolizar a traição feita contra o maior símbolo da fé cristã. Jesus Cristo. É essa a representação dada aos bonecos de Judas que são vendidos nas calçadas do subúrbio fortalezense. Li em uma matéria de jornal que os bonecos podem representar preconceito, racismo, homofobia e tudo aquilo que deve ser expurgado de uma sociedade que busca justiça e igualdade àqueles que a compõe.
Dos oito bonecos que contei, um me chamou bastante atenção. Ele era o terceiro e estava repousado em uma cadeira de plástico branca. Nos poucos segundos que o vi, percebi o motivo de ele ter se destacado à minha visão. Seu rosto era feio, assim como os dos outros. Feito de um material que parecia isopor quebrado. Talvez o artista que o produziu estivesse cortando gastos. Suas sobrancelhas, boca e nariz foram pintados com tinta guache de forma bastante grosseira, nas cores preto e vermelho.

Sua vestimenta era igual a dos outros bonecos, feita com roupas velhas, rasgadas e desbotadas, no entanto um único adereço chamou a atenção e é nele que se concentra tudo. Do alto de um dos seus ombros até a sua anca do lado oposto havia uma faixa que riscava seu tronco. Duas cores compunham a faixa. Ela era metade amarela e metade verde. Percebi então que o boneco representava o presidente da república Michel Temer.

Simples, previsível, vulgar e genial.

A história bíblica diz que no momento de sua traição Judas havia sido possesso pelo demônio. Interpretamos, portanto, que a atitude do apóstolo foi passional, chegando até a não ser de sua responsabilidade, afinal ele estava sob o efeito do próprio Satanás.

Michel, no entanto, faz parte de um plano muito bem arquitetado, planejado minuciosamente para destituir uma líder de seu posto. O usurpador é visto por muitos como o próprio demônio encarnado. Um demônio corrupto odiado pelo próprio país.

Qual país odiaria o seu próprio presidente? Um país que não o escolheu como tal.
Quantas moedas teriam sido suficiente para seduzir Temer em suas escolhas?

Quando a ordem simbólica deve ser posta em prática na queima de bonecos e quando a (des)ordem política e social deve ser acionada para destituir um corrupto de um lugar que não lhe pertence?


Devemos Temer o Judas?