Quando eu tinha oito anos, pedi ao Papai Noel uma bicicleta,
como presente de Natal. Poucos dias antes, havia escrito uma carta objetiva e
sincera, como qualquer criança faria. Não era bom aluno. Nunca fui bom aluno,
até chegar à faculdade. Mas sempre tive bom coração e esperava que meus desejos
fossem atendidos.
O fato é que meu pedido foi respondido pelo velhinho. Na
noite natalina, meus pais me chamaram para ir até o quarto deles. Lá havia um
colchão velho repousado em uma das paredes do cômodo. Entre o colchão e a
parede, em um espaço que geometricamente correspondia à metade de um triângulo,
estava escondido o presente que ganharia. Uma bicicleta novinha.
Entrei em êxtase. Sorri. Até chorei um pouco. Abracei meus
pais e agradeci. Ah! Também abracei ao Papai Noel, um homem negro, que percebi
de cara não ser natural do Polo Norte. Era, na verdade, um tio, muito próximo e
querido, que via quase diariamente. Obrigado Papai Noel, disse a meu tio.
Passado o
período infantil, nunca mais gostei do Natal. Sempre me sinto incomodado. Fora
de contexto. Sabe quando você vai de penetra ao aniversário de um amigo
distante de um amigo seu? É assim que me sinto no Natal. Nos aniversários de
desconhecidos, nunca entendo as piadas internas ou a alegria – genuína ou
forçada – quando um novo membro do grupo chega ao local. Veja, o Ramonzito
chegou. Esse cara é fera. Foda-se!
Na noite
natalina, em comparativo, nunca entendo os círculos, as orações e as
felicitações. Menos entendo quando chega mais um integrante, em forma de
leitura. Seja ele Jó, Isaias, Pedro ou qualquer um dos escritores daquele livro
imenso e enfadonho. Termino ocupando o mesmo espaço. Nas duas ocasiões, estou
no aniversário de um desconhecido onde alguém que é do meu agrado ama. O
primeiro é aniversário de Gabriel ou Lucas, em alguma pizzaria ou choperia da
cidade. O segundo, aniversário de um garotinho que magicamente cisma em nascer
todos os anos.
Em ambas
situações, me limito a segurar a câmera, tirar as fotos, sorrir de forma
forçada a alguma piada idiota e agradecer algum tipo de elogio. No mais, torço
para que a noite acabe, ou para que acabe essa festa boba. Mas e o espírito
natalino, você pode me perguntar, você não se deixa ser tocado por ele? Bom,
esse ano não. Mas, tenhamos esperança. Dezembro próximo o mesmo garotinho há de
nascer novamente. Quem sabe nessa ocasião, seu nascimento faça algum sentido para
mim.
Esse sentimento que você tem na época do Natal se parece um bocado com o meu, meu amigo. Talvez seja apenas o desprezo pelas coisas falsas que, em épocas como agora, costumam abundar. Ah, e tem também o odioso amigo secreto! Outra coisa: um colchão apoiado em diagonal a uma parede não forma meio triângulo, mas sim um triângulo inteiro; triângulo reto, aliás. De fato, vc não foi um bom aluno, até entrar na faculdade, apesar do bom coração de sempre... Hehehehehehe.
ResponderExcluirPorra, George. hehe
ExcluirQuanto ao triângulo tenho uma justificativa plausível: sou de humanas. (Sei que não é plausível).
Bom tê-lo por aqui.