quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Uma noite de Natal

Quando eu tinha oito anos, pedi ao Papai Noel uma bicicleta, como presente de Natal. Poucos dias antes, havia escrito uma carta objetiva e sincera, como qualquer criança faria. Não era bom aluno. Nunca fui bom aluno, até chegar à faculdade. Mas sempre tive bom coração e esperava que meus desejos fossem atendidos.

O fato é que meu pedido foi respondido pelo velhinho. Na noite natalina, meus pais me chamaram para ir até o quarto deles. Lá havia um colchão velho repousado em uma das paredes do cômodo. Entre o colchão e a parede, em um espaço que geometricamente correspondia à metade de um triângulo, estava escondido o presente que ganharia. Uma bicicleta novinha.

Entrei em êxtase. Sorri. Até chorei um pouco. Abracei meus pais e agradeci. Ah! Também abracei ao Papai Noel, um homem negro, que percebi de cara não ser natural do Polo Norte. Era, na verdade, um tio, muito próximo e querido, que via quase diariamente. Obrigado Papai Noel, disse a meu tio. 

Passado o período infantil, nunca mais gostei do Natal. Sempre me sinto incomodado. Fora de contexto. Sabe quando você vai de penetra ao aniversário de um amigo distante de um amigo seu? É assim que me sinto no Natal. Nos aniversários de desconhecidos, nunca entendo as piadas internas ou a alegria – genuína ou forçada – quando um novo membro do grupo chega ao local. Veja, o Ramonzito chegou. Esse cara é fera. Foda-se!

Na noite natalina, em comparativo, nunca entendo os círculos, as orações e as felicitações. Menos entendo quando chega mais um integrante, em forma de leitura. Seja ele Jó, Isaias, Pedro ou qualquer um dos escritores daquele livro imenso e enfadonho. Termino ocupando o mesmo espaço. Nas duas ocasiões, estou no aniversário de um desconhecido onde alguém que é do meu agrado ama. O primeiro é aniversário de Gabriel ou Lucas, em alguma pizzaria ou choperia da cidade. O segundo, aniversário de um garotinho que magicamente cisma em nascer todos os anos.

Em ambas situações, me limito a segurar a câmera, tirar as fotos, sorrir de forma forçada a alguma piada idiota e agradecer algum tipo de elogio. No mais, torço para que a noite acabe, ou para que acabe essa festa boba. Mas e o espírito natalino, você pode me perguntar, você não se deixa ser tocado por ele? Bom, esse ano não. Mas, tenhamos esperança. Dezembro próximo o mesmo garotinho há de nascer novamente. Quem sabe nessa ocasião, seu nascimento faça algum sentido para mim. 

2 comentários:

  1. Esse sentimento que você tem na época do Natal se parece um bocado com o meu, meu amigo. Talvez seja apenas o desprezo pelas coisas falsas que, em épocas como agora, costumam abundar. Ah, e tem também o odioso amigo secreto! Outra coisa: um colchão apoiado em diagonal a uma parede não forma meio triângulo, mas sim um triângulo inteiro; triângulo reto, aliás. De fato, vc não foi um bom aluno, até entrar na faculdade, apesar do bom coração de sempre... Hehehehehehe.

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    1. Porra, George. hehe
      Quanto ao triângulo tenho uma justificativa plausível: sou de humanas. (Sei que não é plausível).
      Bom tê-lo por aqui.

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